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SINOPSE :
O passado pode ser um porto seguro e a maneira como se revisita um mundo de outrora pode dizer muito sobre nosso presente caótico e inseguro. Foi olhando para trás de forma romântica (mas não de maneira reacionária) que o diretor Eli Roth deixou de lado os galões de sangue falso e a estética de filme B para propor uma ode ao deslumbramento infantil em O Mistério do Relógio na Parede. O filme une comédia, fantasia e doses cirúrgicas, e relativamente eficientes, de terror de forma divertida. Mesmo contando com soluções fáceis de roteiro e recorrendo a alguns clichês, o longa-metragem baseado no romance fantástico infanto-juvenil do autor americano John Bellairs tem seus momentos de encanto.
Seria fácil comparar este projeto com exemplares da cinessérie Harry Potter e outras produções que surfaram na onda do sucesso do universo criado por J.K. Rowling, mas o filme de Roth tem ao mesmo tempo o carimbo de produção bem realizada e finalizada e o ar de recreação despretensiosa ao mesmo tempo.
Como indica a logo retrô da Universal Pictures no começo do filme, esta é uma produção de época cheia de referências ao passado, incluindo cenas que aludem com naturalidade a clássicos do terror como Os Pássaros (1963) e O Iluminado (1980), quando Roth mostra sua reverência à tradição cinematográfica da qual, até então, era quase um enfant terrible.
Ambientado na pequena cidade fictícia de Nova Zebedee, no estado americano de Michigan, o enredo acompanha o menino Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro, de Pai em Dose Dupla), que ficou órfão de pai e mãe e foi morar com o excêntrico tio Jonathan Barnavelt, vivido por Jack Black, em uma casa assombrada. Tímido, retraído e ainda enlutado, o garoto vive um dia após o outro na companhia de Jonathan e sua inseparável vizinha, Florence Zimmerman, encarnada por Cate Blanchett. Aos poucos, a criança descobre que seus tutores são bruxos de verdade e dá seus primeiros passos no aprendizado das artes mágicas. Com isso, Lewis acaba se envolvendo com um perigoso feitiço proibido que ativa a força de um poderoso relógio ligado a um feiticeiro que caiu em desgraça que residia na mesma casa onde ele hoje vive.
O mais curioso atrativo de O Mistério do Relógio na Parede é seu elenco. A incomum parceria entre Black e Blanchett flui de forma natural e rende os momentos mais enfeitiçantes do longa-metragem. O roteiro de Eric Kripke, criador da série Supernatural, reserva suas melhores linhas para a espirituosa troca de insultos entre Jonathan e Florence, que acontece com sarcasmo, ritmo e graça. Também é interessante que haja a sugestão de uma tensão romântica meramente platônica entre os dois, mas sem forçar um romance de facto que poderia soar pouco natural.
Black, mesmo careteiro e por vezes derivativo, tem bom tino para comédia e se falta originalidade aos seus trejeitos, ao menos eles não comprometem seu personagem. Blanchett, entretanto, é capaz de engrandecer qualquer papel, mesmo os mais rasos como a Hela de Thor: Ragnarok, pois tem uma presença magnetizante em cena e é versátil o suficiente (vide Manifesto) para passar a credibilidade de sua personagem proto-Mary Poppins demanda. Kyle MacLachlan, que interpreta o vilão Isaac Izard, infelizmente é desperdiçado pelo roteiro com a falta de profundidade de seu papel. Aliás, o texto Kripke não consegue trabalhar bem as motivações ou o desenvolvimento do antagonista e recorre a recursos batidos como o momento no clímax onde o vilão explica todo o seu plano. Além disso, uma gag sem graça sobre uma criança como poliomielite é um momento grosseiro em um filme que não precisava disso para fazer humor.
Para um filme que passa a maior parte do tempo em ambientes internos, o design de produção e a fotografia de escuros contrastes de Rogier Stoffers dão conta de criar uma atmosfera envolvente na casa mágica de Jonathan, com sua poltrona-animal de estimação, múltiplos relógios e vitrais e quadros que mudam de imagem quando ninguém está olhando. Roth usa seu leque de bizarrices na medida certa quando filma um motim infernal de brinquedos macabros, no "gore" permitido para menores provocado por uma série de abóboras assassinas e na aparição de um ser maligno bizarro que tem determinante importância na trama.
Como resultado, o mesmo diretor de O Albergue e Cabana do Inferno conseguiu entregar em O Mistério do Relógio na Parede, entre acertos e ressalvas, um competente filme infantil que diverte nos cinemas e poderia muito bem se tornar um clássico cult na Sessão da Tarde do futuro.
Seria fácil comparar este projeto com exemplares da cinessérie Harry Potter e outras produções que surfaram na onda do sucesso do universo criado por J.K. Rowling, mas o filme de Roth tem ao mesmo tempo o carimbo de produção bem realizada e finalizada e o ar de recreação despretensiosa ao mesmo tempo.
Como indica a logo retrô da Universal Pictures no começo do filme, esta é uma produção de época cheia de referências ao passado, incluindo cenas que aludem com naturalidade a clássicos do terror como Os Pássaros (1963) e O Iluminado (1980), quando Roth mostra sua reverência à tradição cinematográfica da qual, até então, era quase um enfant terrible.
Ambientado na pequena cidade fictícia de Nova Zebedee, no estado americano de Michigan, o enredo acompanha o menino Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro, de Pai em Dose Dupla), que ficou órfão de pai e mãe e foi morar com o excêntrico tio Jonathan Barnavelt, vivido por Jack Black, em uma casa assombrada. Tímido, retraído e ainda enlutado, o garoto vive um dia após o outro na companhia de Jonathan e sua inseparável vizinha, Florence Zimmerman, encarnada por Cate Blanchett. Aos poucos, a criança descobre que seus tutores são bruxos de verdade e dá seus primeiros passos no aprendizado das artes mágicas. Com isso, Lewis acaba se envolvendo com um perigoso feitiço proibido que ativa a força de um poderoso relógio ligado a um feiticeiro que caiu em desgraça que residia na mesma casa onde ele hoje vive.
O mais curioso atrativo de O Mistério do Relógio na Parede é seu elenco. A incomum parceria entre Black e Blanchett flui de forma natural e rende os momentos mais enfeitiçantes do longa-metragem. O roteiro de Eric Kripke, criador da série Supernatural, reserva suas melhores linhas para a espirituosa troca de insultos entre Jonathan e Florence, que acontece com sarcasmo, ritmo e graça. Também é interessante que haja a sugestão de uma tensão romântica meramente platônica entre os dois, mas sem forçar um romance de facto que poderia soar pouco natural.
Black, mesmo careteiro e por vezes derivativo, tem bom tino para comédia e se falta originalidade aos seus trejeitos, ao menos eles não comprometem seu personagem. Blanchett, entretanto, é capaz de engrandecer qualquer papel, mesmo os mais rasos como a Hela de Thor: Ragnarok, pois tem uma presença magnetizante em cena e é versátil o suficiente (vide Manifesto) para passar a credibilidade de sua personagem proto-Mary Poppins demanda. Kyle MacLachlan, que interpreta o vilão Isaac Izard, infelizmente é desperdiçado pelo roteiro com a falta de profundidade de seu papel. Aliás, o texto Kripke não consegue trabalhar bem as motivações ou o desenvolvimento do antagonista e recorre a recursos batidos como o momento no clímax onde o vilão explica todo o seu plano. Além disso, uma gag sem graça sobre uma criança como poliomielite é um momento grosseiro em um filme que não precisava disso para fazer humor.
Para um filme que passa a maior parte do tempo em ambientes internos, o design de produção e a fotografia de escuros contrastes de Rogier Stoffers dão conta de criar uma atmosfera envolvente na casa mágica de Jonathan, com sua poltrona-animal de estimação, múltiplos relógios e vitrais e quadros que mudam de imagem quando ninguém está olhando. Roth usa seu leque de bizarrices na medida certa quando filma um motim infernal de brinquedos macabros, no "gore" permitido para menores provocado por uma série de abóboras assassinas e na aparição de um ser maligno bizarro que tem determinante importância na trama.
Como resultado, o mesmo diretor de O Albergue e Cabana do Inferno conseguiu entregar em O Mistério do Relógio na Parede, entre acertos e ressalvas, um competente filme infantil que diverte nos cinemas e poderia muito bem se tornar um clássico cult na Sessão da Tarde do futuro.
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