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Zama Dublado
SINOPSE :
Lucrecia Martel é mais que uma diretora, é uma pensadora. Sobre tudo que a cerca, não à toa seu cinema ecoa de forma tão pulsante suas ideias — e, assim, também pensante é a sua arte. Com isso, é com certa surpresa que o público pode se deparar com Zama, por um olhar supostamente empático a um funcionário da coroa espanhola no século 18 preso em uma colônia na fronteira da Argentina com o Paraguai. O protagonista é um colonizador. Ou, segundo seus próprios pensamentos, um "pacificador de índios".
Esta informação — em tom absurdamente elogioso que ressoa como convencimento e questionamento sobre o valor de si mesmo — é essencial para se identificar a fina ironia no olhar de Lucrecia sobre a condição de Dom Diego de Zama. Causa e consequência: o protagonista vive uma típica situação kafkiana, confinado em uma máquina burocrática que promete promovê-lo e demovê-lo daquela terra selvagem para a capital argentina Buenos Aires; por isso, dentre outras coisas, uma voz juvenil se entranha em seu pensamento (se materializando aos seus olhos com a forma de um menino suspeito), provocando um estado de confusão mental que redunda em seu infortúnio: a decisão de caçar o "terrível" Vicuña Porto, um bandido misterioso que invade casas e estupra moças.
Dom Diego é, assim, um homem encerrado no sistema de que ele mesmo faz parte. Um colonizador sofrendo os terríveis efeitos da colônia — onde, curiosamente, os colonizados se mostram livres (literalmente), enquanto ele, não. Ainda no início do filme, o protagonista observa nativas nuas e é repreendido aos gritos de "voyeur", para sua expressão de pavor. A própria dimensão quadrada da tela acentua esse efeito quando o plano se fecha; os closes constantes no rosto de Daniel Giménez Cacho, em atuação silenciosa e eloquente, espelham medo, claustrofobia e desnorteamento. A principal cena de Zama — que se repete — é um plano aberto lindíssimo que enquadra o personagem sozinho, e sempre à vista da presença selvagem da natureza ou de nativos. Sempre exposto. Perigo constante.
O desespero de Dom Diego é a base narrativa de Zama. Entre tarefas inúteis e a manipulação banal de quem o rodeia, o protagonista é constantemente retratado em planos fechados na nuca que ilustram sua perturbação. A experiência totalmente imersiva na América do Sul do fim do século 17 gera uma atmosfera febril — como tantas vezes parece o protagonista, tão perdido quanto suado, seu figurino pesado formando um contraponto agoniante com o clima quente e úmido sob o que se encontra. Destemida, muito ousada, Lucrecia toma uma postura radical e evoca esse desconforto no público durante quase duas horas de um ritmo intensamente arrastado, incômodo. A narrativa é sinuosa, feita de enigmas nos diálogos, nos personagens, no quadro. Em algum momento, será mais interessante enfocar, em detrimento da ação, o expressivo olhar de um cavalo.
Assim, Lucrecia gera uma experiência atordoante, desafiadora porém marcante, que encena com perfeição o livro homônimo em que se baseia, de Antonio di Benedetto, publicada em 1956. A cineasta argentina constrói cinematograficamente um suspense que brota da fenda da linguagem, das elipses do texto para a cena, e isso realça perfeitamente uma proposta tradicional da autora de O Pântano, Menina Santa e A Mulher Sem Cabeça: representar a falha na existência de seus personagens. Assim, Martel se apropria da obra-prima da Trilogia da Espera e articula sua própria arte, de uma autoralidade que questiona de maneira frontal as deformações do indivíduo e da sociedade. Em Zama, a discussão vem logo abaixo da representação.
Por isso, o desconforto do público não espelha apenas a angústia de Dom Diego — para Benedetto, o que Josef K. foi para Kafka. O mal-estar (extremado por um som grave da caixa do baixo como se ecoasse de dentro da cabeça) pulsa de todo o contexto de uma colônia caótica. A selvageria reside tanto no ataque de índios pintados, como na servidão do homem negro. As ações do insano Vicuña Porto são mais bárbaras que a "pacificação" de nativos ou mera questão de ponto de vista? O convite à reflexão (bem sutil, é verdade) explica nossa empatia por Zama. A pergunta, Lucrecia Martel responde em uma cena final chocante. Todos padecem.
Esta informação — em tom absurdamente elogioso que ressoa como convencimento e questionamento sobre o valor de si mesmo — é essencial para se identificar a fina ironia no olhar de Lucrecia sobre a condição de Dom Diego de Zama. Causa e consequência: o protagonista vive uma típica situação kafkiana, confinado em uma máquina burocrática que promete promovê-lo e demovê-lo daquela terra selvagem para a capital argentina Buenos Aires; por isso, dentre outras coisas, uma voz juvenil se entranha em seu pensamento (se materializando aos seus olhos com a forma de um menino suspeito), provocando um estado de confusão mental que redunda em seu infortúnio: a decisão de caçar o "terrível" Vicuña Porto, um bandido misterioso que invade casas e estupra moças.
Dom Diego é, assim, um homem encerrado no sistema de que ele mesmo faz parte. Um colonizador sofrendo os terríveis efeitos da colônia — onde, curiosamente, os colonizados se mostram livres (literalmente), enquanto ele, não. Ainda no início do filme, o protagonista observa nativas nuas e é repreendido aos gritos de "voyeur", para sua expressão de pavor. A própria dimensão quadrada da tela acentua esse efeito quando o plano se fecha; os closes constantes no rosto de Daniel Giménez Cacho, em atuação silenciosa e eloquente, espelham medo, claustrofobia e desnorteamento. A principal cena de Zama — que se repete — é um plano aberto lindíssimo que enquadra o personagem sozinho, e sempre à vista da presença selvagem da natureza ou de nativos. Sempre exposto. Perigo constante.
O desespero de Dom Diego é a base narrativa de Zama. Entre tarefas inúteis e a manipulação banal de quem o rodeia, o protagonista é constantemente retratado em planos fechados na nuca que ilustram sua perturbação. A experiência totalmente imersiva na América do Sul do fim do século 17 gera uma atmosfera febril — como tantas vezes parece o protagonista, tão perdido quanto suado, seu figurino pesado formando um contraponto agoniante com o clima quente e úmido sob o que se encontra. Destemida, muito ousada, Lucrecia toma uma postura radical e evoca esse desconforto no público durante quase duas horas de um ritmo intensamente arrastado, incômodo. A narrativa é sinuosa, feita de enigmas nos diálogos, nos personagens, no quadro. Em algum momento, será mais interessante enfocar, em detrimento da ação, o expressivo olhar de um cavalo.
Assim, Lucrecia gera uma experiência atordoante, desafiadora porém marcante, que encena com perfeição o livro homônimo em que se baseia, de Antonio di Benedetto, publicada em 1956. A cineasta argentina constrói cinematograficamente um suspense que brota da fenda da linguagem, das elipses do texto para a cena, e isso realça perfeitamente uma proposta tradicional da autora de O Pântano, Menina Santa e A Mulher Sem Cabeça: representar a falha na existência de seus personagens. Assim, Martel se apropria da obra-prima da Trilogia da Espera e articula sua própria arte, de uma autoralidade que questiona de maneira frontal as deformações do indivíduo e da sociedade. Em Zama, a discussão vem logo abaixo da representação.
Por isso, o desconforto do público não espelha apenas a angústia de Dom Diego — para Benedetto, o que Josef K. foi para Kafka. O mal-estar (extremado por um som grave da caixa do baixo como se ecoasse de dentro da cabeça) pulsa de todo o contexto de uma colônia caótica. A selvageria reside tanto no ataque de índios pintados, como na servidão do homem negro. As ações do insano Vicuña Porto são mais bárbaras que a "pacificação" de nativos ou mera questão de ponto de vista? O convite à reflexão (bem sutil, é verdade) explica nossa empatia por Zama. A pergunta, Lucrecia Martel responde em uma cena final chocante. Todos padecem.
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