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Assistir Primavera em Casablanca (2018) Online
Razzia Dublado
Ano de produção: 2018
Nacionalidade: França
Gênero: Drama / Novos Filmes
Duração: 1h59min
Direção: Nabil Ayouch
Áudio: Português
SINOPSE :
Ame ou odeie, o espectador deste drama dificilmente poderá criticá-lo pela falta de ambições. Em pouco menos de duas horas, o diretor Nabil Ayouch traça um vasto panorama do Marrocos dos anos 1980 ao tempo presente, mostrando a evolução de cinco personagens enfrentando conflitos como aborto, machismo, prostituição, drogas, violência doméstica, preconceito contra artistas, desigualdade social, o embate político com judeus, a revolução política nas ruas, a disputa entre as línguas árabe e berbere, a brutalidade policial, a desilusão dos idosos, a cegueira dos adultos, a indiferença dos jovens.
Ao invés de selecionar um caso capaz de representar os outros ao redor, o cineasta pretende ser claro, até didático, ilustrando a sociedade inteira num único filme. Por um lado, o recurso tem a vantagem de enxergar a coletividade como uma rede interligada: as dezenas de personagens convivem no mesmo espaço, de modo que as ações de um interferem na vida do outro, e assim por diante. Mesmo que os segmentos sejam relativamente independentes, eles retratam conflitos morais como decorrência de um mesmo modo de pensar, nutrido por convenções religiosas e políticas, sem apontar culpados ou inocentes.
Por outro lado, a estrutura pode incomodar pela saturação. Ainda que eficaz, a montagem não evita a sensação de que cada subtrama mereceria maior atenção, enquanto alguns personagens (a adolescente interpretada por Dounia Binebine, em particular) são introduzidos tarde demais na trama. Além disso, quando as histórias paralelas finalmente se encontram, rumo à conclusão, Ayouch pesa a mão, sublinhando mensagens de modo a torná-las explícitas demais. Primavera em Casablanca é muito bom quando busca compreender a origem dos problemas (durante dois terços do projeto), mas se enfraquece na hora de propor soluções.
Exageros à parte, é notável o modo como a direção encontra poesia em momentos inesperados. A narração em off do professor (Amine Ennaji), o afeto de Hakim (Abdelilah Rachid) pela irmã mais nova, a dança livre de Salima (Maryam Touzani) entre as outras mulheres, a conversa terna entre o cliente de origem judia (Arieh Worthalter) e a prostituta árabe (Maha Boukhari) são reflexos de um diretor que presta real atenção a seus personagens e seus atores. Muitos filmes políticos destilam fel em cada cena, mas este projeto transborda de ternura em meio à violência das ruas. A apresentação de “We are the Champions”, entoada acappella por Hakim, funciona como potente momento de catarse emocional.
Outro recurso muito bem explorado é a relação entre Casablanca, a cidade, e Casablanca, o filme de Michael Curtiz. Motivo de orgulho para alguns personagens do filme, o clássico norte-americano é retratado como símbolo de alienação social, em outras palavras, uma versão idealizada e exótica que não corresponde em nada às contradições da sociedade local. O roteiro faz questão de expor o romantismo dos turistas ocidentais com a cidade marroquina, apenas para desconstruí-lo com uma ferocidade ímpar no trecho final. O espectador provavelmente não vai mais escutar “As Time Goes By” da mesma maneira, e é melhor assim: símbolos e clichês são feitos para serem reinterpretados e ressignificados ao longo do tempo.
Na construção de imagens, Ayouch aposta numa câmera atenta e empática, focando nos rostos durante momentos de silêncio, mas afastando-se dos corpos em momentos mais agressivos (vide a agressão a Salima). As cenas intimistas apostam na variação emocional do excelente elenco, enquanto a violência adota um distanciamento para não soar fetichista nem exploradora. Por fim, o cineasta consegue observar de maneira brutal os principais tabus das sociedades árabes. Talvez ele tenha elementos demais em jogo, e não se prive de alguns exageros rumo à conclusão, mas surpreende positivamente pela incisiva visão de cinema e do mundo.
Ao invés de selecionar um caso capaz de representar os outros ao redor, o cineasta pretende ser claro, até didático, ilustrando a sociedade inteira num único filme. Por um lado, o recurso tem a vantagem de enxergar a coletividade como uma rede interligada: as dezenas de personagens convivem no mesmo espaço, de modo que as ações de um interferem na vida do outro, e assim por diante. Mesmo que os segmentos sejam relativamente independentes, eles retratam conflitos morais como decorrência de um mesmo modo de pensar, nutrido por convenções religiosas e políticas, sem apontar culpados ou inocentes.
Por outro lado, a estrutura pode incomodar pela saturação. Ainda que eficaz, a montagem não evita a sensação de que cada subtrama mereceria maior atenção, enquanto alguns personagens (a adolescente interpretada por Dounia Binebine, em particular) são introduzidos tarde demais na trama. Além disso, quando as histórias paralelas finalmente se encontram, rumo à conclusão, Ayouch pesa a mão, sublinhando mensagens de modo a torná-las explícitas demais. Primavera em Casablanca é muito bom quando busca compreender a origem dos problemas (durante dois terços do projeto), mas se enfraquece na hora de propor soluções.
Exageros à parte, é notável o modo como a direção encontra poesia em momentos inesperados. A narração em off do professor (Amine Ennaji), o afeto de Hakim (Abdelilah Rachid) pela irmã mais nova, a dança livre de Salima (Maryam Touzani) entre as outras mulheres, a conversa terna entre o cliente de origem judia (Arieh Worthalter) e a prostituta árabe (Maha Boukhari) são reflexos de um diretor que presta real atenção a seus personagens e seus atores. Muitos filmes políticos destilam fel em cada cena, mas este projeto transborda de ternura em meio à violência das ruas. A apresentação de “We are the Champions”, entoada acappella por Hakim, funciona como potente momento de catarse emocional.
Outro recurso muito bem explorado é a relação entre Casablanca, a cidade, e Casablanca, o filme de Michael Curtiz. Motivo de orgulho para alguns personagens do filme, o clássico norte-americano é retratado como símbolo de alienação social, em outras palavras, uma versão idealizada e exótica que não corresponde em nada às contradições da sociedade local. O roteiro faz questão de expor o romantismo dos turistas ocidentais com a cidade marroquina, apenas para desconstruí-lo com uma ferocidade ímpar no trecho final. O espectador provavelmente não vai mais escutar “As Time Goes By” da mesma maneira, e é melhor assim: símbolos e clichês são feitos para serem reinterpretados e ressignificados ao longo do tempo.
Na construção de imagens, Ayouch aposta numa câmera atenta e empática, focando nos rostos durante momentos de silêncio, mas afastando-se dos corpos em momentos mais agressivos (vide a agressão a Salima). As cenas intimistas apostam na variação emocional do excelente elenco, enquanto a violência adota um distanciamento para não soar fetichista nem exploradora. Por fim, o cineasta consegue observar de maneira brutal os principais tabus das sociedades árabes. Talvez ele tenha elementos demais em jogo, e não se prive de alguns exageros rumo à conclusão, mas surpreende positivamente pela incisiva visão de cinema e do mundo.
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