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Ano de produção: 2018
Nacionalidade: França
Duração: 2h12min
Direção: Christophe Honoré
Áudio: Português
SINOPSE :
Desde a primeira cena, os personagens deste drama conversam sobre amor. “Mas o que temos é amor ou não?”, “Então você não me ama, é isso?”, “Por que você não ama o meu pai?”. O sentimento amoroso constitui o motor de todos os conflitos, e também uma medida de tempo: após o término de um relacionamento, a montagem pula para o próximo instante em que os personagens encontram uma pessoa interessante na rua ou reencontram alguém por quem já foram apaixonados. A trama é centrada num escritor famoso que nunca escreve (Pierre Deladonchamps) e um estudante que nunca estuda (Vincent Lacoste), porque os tempos fora do sentimento amoroso não interessam à narrativa.
O diretor Christophe Honoré se acostumou às cirandas afetivas em suas comédias dramáticas, e desta vez se aproxima de uma vertente do intelectualismo romântico que poderia ser facilmente considerada um clichê do cinema de autor francês, herdeiro da Nouvelle Vague. Aqui, os personagens tecem longos comentários existenciais pré-coito ou pós-coito, citam artistas de todas as expressões possíveis: cinema, literatura, pintura, teatro, fotografia, música. A câmera admira com atenção o túmulo de François Truffaut, o estudante faz um passeio por cartões postais de Paris e o escritor literalmente cheira rosas durante o amanhecer, ao som de música clássica.
No centro da trama está o encontro improvável entre o parisiense Jacques, com cerca de 35 anos, e o bretão Arthur, quinze anos mais novo. Ambos têm o mesmo prazer pelo flerte furtivo nas ruas, à noite. Eles se provocam, seduzem, recuam, e depois se entregam. Apesar de saírem com outras pessoas regularmente, este encontro em particular intriga a ambos, talvez pela dificuldade – a diferença de idade, a distância geográfica – talvez pela abordagem bem resolvida de ambos em relação à própria sexualidade. Enquanto se conhecem melhor, Jacques e Arthur perdem amigos para a AIDS.
A representação do vírus do HIV no cinema de temática LGBT costuma evocar sensações contraditórias. Por um lado, cumpre um papel informativo e honra a memória de tantos indivíduos vitimados pela AIDS. Por outro lado, reforça a conexão entre homossexualidade e HIV numa proporção desmesurada. A sobrerrepresentação é sublinhada pela ausência de filmes sobre amores heterossexuais relacionados ao vírus. Héteros contraem tanto o HIV quanto gays – de acordo com últimas pesquisas, mulheres casadas constituem o grupo mais afetado – mas apenas gays, lésbicas e transexuais são retratados como vítimas dela.
Honoré se mantém extremamente respeitoso nesta questão, tratando a proximidade com a morte com uma delicadeza ímpar, sem fetichizar procedimentos médicos nem a degradação física dos corpos. Aliás, os afetos são carregados de uma leveza invejável, com casais se fazendo e desfazendo, sem grandes preocupações com o dia seguinte. Sem o peso das famílias, do trabalho, da igreja ou de quaisquer outras instituições, os amores são livres para se configurarem como querem. Ironicamente, para retratar tamanho despojamento, o cineasta opta por uma linguagem acadêmica e funcional, de planos de conjunto estáticos ou acompanhando os homens em suas paqueras noturnas. A ação não é movida pela imagem, e sim pelo diálogo, além de certos elementos pictóricos – a insistência quase cômica no uso da cor azul, por exemplo.
No elenco, Pierre Deladonchamps é o nome perfeito para o papel do escritor, demonstrando desenvoltura e naturalidade, ao contrário de Vincent Lacoste, um tanto desconfortável. Denis Podalydès, num papel menor, faz uma composição discreta e excelente, com direito a um dos diálogos mais comoventes do filme. De fato, o trio fala demais, filosofa ora em profundidade, ora com frases feitas de autoajuda (“Onde estaremos daqui a 10 anos?”, interrogam), efetua longas tiradas sobre os tipos de loiro, ou os tipos de gay. Tudo está escrito em demasia, esticado para além da conta, tanto no teor do romantismo quanto na própria duração do projeto. Mas Honoré abraça os excessos e faz o possível para equilibrar o aspecto pretensioso das referências artísticas com o lado descontraído dos amores cotidianos.
O diretor Christophe Honoré se acostumou às cirandas afetivas em suas comédias dramáticas, e desta vez se aproxima de uma vertente do intelectualismo romântico que poderia ser facilmente considerada um clichê do cinema de autor francês, herdeiro da Nouvelle Vague. Aqui, os personagens tecem longos comentários existenciais pré-coito ou pós-coito, citam artistas de todas as expressões possíveis: cinema, literatura, pintura, teatro, fotografia, música. A câmera admira com atenção o túmulo de François Truffaut, o estudante faz um passeio por cartões postais de Paris e o escritor literalmente cheira rosas durante o amanhecer, ao som de música clássica.
No centro da trama está o encontro improvável entre o parisiense Jacques, com cerca de 35 anos, e o bretão Arthur, quinze anos mais novo. Ambos têm o mesmo prazer pelo flerte furtivo nas ruas, à noite. Eles se provocam, seduzem, recuam, e depois se entregam. Apesar de saírem com outras pessoas regularmente, este encontro em particular intriga a ambos, talvez pela dificuldade – a diferença de idade, a distância geográfica – talvez pela abordagem bem resolvida de ambos em relação à própria sexualidade. Enquanto se conhecem melhor, Jacques e Arthur perdem amigos para a AIDS.
A representação do vírus do HIV no cinema de temática LGBT costuma evocar sensações contraditórias. Por um lado, cumpre um papel informativo e honra a memória de tantos indivíduos vitimados pela AIDS. Por outro lado, reforça a conexão entre homossexualidade e HIV numa proporção desmesurada. A sobrerrepresentação é sublinhada pela ausência de filmes sobre amores heterossexuais relacionados ao vírus. Héteros contraem tanto o HIV quanto gays – de acordo com últimas pesquisas, mulheres casadas constituem o grupo mais afetado – mas apenas gays, lésbicas e transexuais são retratados como vítimas dela.
Honoré se mantém extremamente respeitoso nesta questão, tratando a proximidade com a morte com uma delicadeza ímpar, sem fetichizar procedimentos médicos nem a degradação física dos corpos. Aliás, os afetos são carregados de uma leveza invejável, com casais se fazendo e desfazendo, sem grandes preocupações com o dia seguinte. Sem o peso das famílias, do trabalho, da igreja ou de quaisquer outras instituições, os amores são livres para se configurarem como querem. Ironicamente, para retratar tamanho despojamento, o cineasta opta por uma linguagem acadêmica e funcional, de planos de conjunto estáticos ou acompanhando os homens em suas paqueras noturnas. A ação não é movida pela imagem, e sim pelo diálogo, além de certos elementos pictóricos – a insistência quase cômica no uso da cor azul, por exemplo.
No elenco, Pierre Deladonchamps é o nome perfeito para o papel do escritor, demonstrando desenvoltura e naturalidade, ao contrário de Vincent Lacoste, um tanto desconfortável. Denis Podalydès, num papel menor, faz uma composição discreta e excelente, com direito a um dos diálogos mais comoventes do filme. De fato, o trio fala demais, filosofa ora em profundidade, ora com frases feitas de autoajuda (“Onde estaremos daqui a 10 anos?”, interrogam), efetua longas tiradas sobre os tipos de loiro, ou os tipos de gay. Tudo está escrito em demasia, esticado para além da conta, tanto no teor do romantismo quanto na própria duração do projeto. Mas Honoré abraça os excessos e faz o possível para equilibrar o aspecto pretensioso das referências artísticas com o lado descontraído dos amores cotidianos.
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